31 de dezembro de 2010

Feliz Ano Novo



Dois mil e dez foi um ano difícil. Talvez o mais difícil de toda a minha vida. Não que dois mil e nove tenha sido fácil, mas era mais fácil apontar os problemas no ano passado. Neste ano, convivi boa parte com meus fantasmas. Não me iludo: o que doia ontem, dói hoje do mesmo tanto ou mais. Tive de aceitar minhas limitações, minhas responsabilidades e descobri coisas em mim que até hoje tenho dificuldade em enunciar. Mas cresci, me conheci melhor e me esforcei mais do que achei que seria capaz.
Sim, estou exausta. Chego em trinta e um de dezembro completamente exausta de lutar e de mim. Não carrego esperança, nem planos para o futuro. Meu futuro é agora. É a próxima hora. Ao mesmo tempo, chego grata. Satisfeita e meio assustada de ter chegado aqui e estar conseguindo viver no meio do cinza. Imensamente surpresa com os amigos que tenho. Aprendendo minuto a minuto a aceitar quem eu sou e descobrir em que consiste minha vida. Sou mais o andarilho do que o peregrino. Às vezes desfaleço. Há dias em que mal me movo e noites em que ando léguas. O importante, agora, não é ir em direção a um objetivo, mas continuar andando, faça chuva ou faça sol. Meu maior obstáculo hoje sou eu mesma. Minha maior aliada, eu mesma. Não ouso dizer "que venha dois mil e onze". Só sigo respirando, vivendo e, ocasionalmente,  celebrando o fato de ainda estar.

25 de dezembro de 2010

Pérolas aos porcos

 Baby Blues for 12/25/2010

Daí que o que aprendi esse Natal é que não sei receber. Sim, é preciso saber receber tanto quanto dar. Porque, afinal, se não se sabe receber, perde-se o que foi ganho. Nesse momento então, a resposta para a pergunta se é melhor ter amado e perdido ou nunca ter amado é que é melhor aprender a ser amado primeiro.
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Aprendi também que não adianta lutar contra o que é. Se seus olhos não querem fechar e sua mente descansar, acostume-se e aprenda a viver com quatro horas de sono diário. Quanto mais se lutar contra isso, mais horas de sono serão perdidas.
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E, por último, aprendi que confiança perdida é como café frio. A gente até requenta, mas muda muito o sabor.

21 de dezembro de 2010

Confession

My love,

I keep seeing things I think you'd like to see, reading things I think you'll enjoy reading, and planning trips we'd go on together. I cannot ask you to be patient with me. I feel like I've given all I could give and yet, it is so not enough. Yet now I'm learning to hold my own hand when I cross the road and figure out my puzzles without you.  It feels like walking on a treadmill. I go nowhere and accomplish so little. But I keep coming back. Somehow, I just keep breathing. For now, that is all I know how to do.

18 de dezembro de 2010

In the battlefield



A tristeza agora chega sem fazer cerimônia. Se aboleta no meu peito e, de vez em quando, aperta meu coração com ambas as mãos para me lembrar quem está no controle. Vai usando a falta de serotonina para viajar pelos meus neurônios até convencer meu próprio cérebro que chegou para ficar. Eu, já acostumada com ela, finjo que não vejo. Quem sabe ela se manca e cai fora? Quem sabe se eu a ignorar ela simplesmente canse de mim?
Mas ela não vai. Pelo contrário, convida mais amigos. Não passa muito tempo vem a insônia, a impaciência,  solidão e o pior de todos, o medo. São seres notívagos e famintos e me sugam como bebê recém-nascido. Não tendo mais como ignorá-los, visto a armadura da auto-defesa e começo a traçar meu plano de ação. Passo horas lançando mão de todo o arsenal que me foi dado para combatê-los. Na linha de frente, o antidepressivo. Nos flancos direito e esquerdo, a terapia individual e a em grupo. Na retaguarda, grupo de apoio.
Meus inimigos não se fazem de rogados, pois conhecem bem minha defesa. Atacam latentemente e por todos os lados. Vão me encurralando dentro de mim mesma e da minha mente, minando a esperança e a fé. Eu, já fraca, vou arrefecendo. Meus soldados estão famintos e feridos. Minhas armas, gastas. Preciso muito mais força e vontade para continuar resistindo até que cheguem reforços. But wait, de onde virão meus reforços? Quem foi avisá-los que a batalha está por um fio? Chegarão a tempo? Trarão comida, cobertores, bandagens? Novo plano de ação e armas?
Mas agora é noite e o ataque está prestes a recomeçar. Hora de voltar à vigília, me certificar que todos os pontos foram cobertos e rezar para que eu dure só por hoje.

8 de dezembro de 2010

As cinco tarefas para quem tem tendinite



1. Abrir uma garrafa de vinho com abridor normal;
2. Espremer um limão com as mãos;
3. Colocar a luva por cima da tala;
4. Secar o cabelo com o secador para não pegar pneumonia no inverno e, finalmente,
5. Escrever uma carta com a mão oposta, ou seja, a que não se usa normalmente.

A propósito, a pintura é Alegoria da Sabedoria e Forza, de Veronese.

5 de dezembro de 2010

Nem naughty, nem nice


Querido Papai Noel,

Todo ano eu venho aqui com minha listinha de presentes porque, como você bem sabe, eu não quero deixar meus amiguinhos queimando as pestanas para encontrar o presente perfeito.
Confesso que eu queria te deixar uns cookies na lareira, mas o povo aqui do prédio esse ano proibiu até as luzes do Natal, sem contar que com minha eterna dieta, cookie aqui em casa só da Atkins. Modos que vou pendurar ali na porta uma guirlanda, colocar o DVD do natal do Charlie Brown e considerar-me no melhor espírito natalino.
Assim, nessa animação toda, aqui vai  minha lista porque obviamente eu fui mais do que boa menina esse ano _ fiz todo meu dever de casa, paguei pelo menos uns quarenta por cento dos meus pecados, reconsiderei uns três vistos que iria negar e até fiz alguma boa ação:

1. livro do Michelangelo Art and Ideas porque a pessoa aqui esqueceu de comprar na Itália;
2. um mês de personal trainer para acabar de vez com a preguiça de malhar (tá bom, querer mesmo eu queria era uma lipo);
3. tênis branco para corrida ou caminhada;
4. os CDs da Rita Ribeiro para substituir os que me roubaram na mudança (o segundo e o terceiro);
5. porta-retratos digital para colocar todas as fotas que tirei esse ano;
6. mesinha de colo para colocar meu laptop novo no quarto.

Como você pode ver, estou facinha. Aproveite e me dê umas dicas do que anda nas listas das outras pessoinhas queridas e já que o inverno começou super cedo em  hotlanta, não nos deixe sem um white Christmas.

Beijos natalinos,

30 de novembro de 2010

A gente não quer só comida.




Hoje teve novo dotô da cabeça. Dotôra, agora. Já comecei a assustando ao dizer que ela era a terceira em menos de três anos nos istaites. A pobrezinha me abriu um olho que só vendo. Me recebeu em uma sala pequena, arrumadinha até, com quatro poltronas e nenhum divã. Sentamos assim, cara a cara, mas não me senti afrontada nem invadida. Conversou comigo como se fôssemos conhecidas de longa data e não fez as perguntas mais óbvias que eu antecipava.
Olhando para trás, vejo o quanto a terapia me ajudou a ser uma pessoa melhor, principalmente quando eu estava tão envolvida comigo mesma que não conseguia ver um Rudolph na minha frente. No entanto, ainda encontro dificuldade de falar sobre o tema com muitas pessoas. Para minha família, quem vai ao psicólogo está louco. Para certos amigos, depressão é coisa de preguiça de sair, se animar e curtir a vida. Para outros, falta de fé em Deus. E olha que estou falando de gente que me acompanha há vários anos. Gente que pôde ver, palpavelmente, quem era e quem sou. Melhor dizendo, como era e como estou.
Na verdade, do que sinto falta mesmo é de gente que fique ao meu lado, mesmo que calado, quando bate a crise e as neuroses são grandes demais para segurar. Gente que não sinta pena e entenda que, por aquele momento pelo menos, preciso de atenção e respeito. Hoje, na salinha da minha nova dotôra da cabeça, me senti bem porque ela me mostrou que é possível ter esperança e objetivos e que não estou sozinha nessa luta.

24 de novembro de 2010

Recomeçando

Um ano atrás eu estava aqui. Tomando dois antidepressivos e um calmante por dia, com psiquiatra, psicólogo e terapia de grupo. Trezentos e sessenta e cinco dias depois, mudanças feitas, novos hábitos, livros lidos, dever de casa feito, continuo aqui. É tanta coisa para decidir, objetivos para traçar e nenhuma vontade: nem por mim, nem pelos outros. Me foge o chão e me aterroriza a idéia de que estarei exatamente no mesmo lugar daqui a um ano.

21 de novembro de 2010

O Rei a todos faz saber



Credo, não tenho a menor vocação para arauto, mas ando meio farta de tudo isso e minha consciência não me exime de, pelo menos, dar minha opinião.

15 de novembro de 2010

Hypothetically speaking


E se, só por um dia, eu não fosse complicada, seria ainda eu? Se, por uma semana, eu me visse com os olhos dos outros, me entenderia melhor? Se, para variar, falasse o que os outros querem ouvir, passaria mal? Tem dias em que o peso dos "se" me esmaga.

14 de novembro de 2010

Olhai os lírios do campo


Sempre imaginei que se eu fosse uma flor, seria uma orquídea, mas hoje descobri que sou um lírio. Você já parou para observar como os lírios são delicados e, ao mesmo tempo, resistentes? Como o perfume de uma só flor se espalha pelo ambiente, deixando uma marca inconfundível? E se você a balançar mesmo que levemente, fica impregnado de pólen e do cheiro. O lírio abre lentamente. Não, não abre. Se escancara. Mostra cada dobra, cada pinta, seu pistilo molhado, tudo. Não pede desculpa pelo perfume, nem pelas cores firmes. "E, no entanto, nem Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles."
Mesmo em seu ocaso, o lírio envelhece diferente; vai secando as pontas, trocando de cor e perdendo o viço, mas mantém o perfume. Você já quis algo tanto que te dói? Eu fui assim quando sabia quem era. Melhor, quando tinha orgulho de quem era. Depois fui perdendo o perfume, a cor, o viço. Hoje, sou flor de plástico. E todo mundo sabe que "as flores de plástico não morrem".

5 de novembro de 2010

Todos os caminhos


Vá com tempo à Itália. Sem pressa de sentar no café Conca Doro admirando os doces em formato de ferramentas ou as belezas locais que por lá transitam. Sem hora para parar de comer o banquete que o garçon do Il Latini vai te oferecer como se a mamma dele que tivesse cozinhado. Sem hora para sair da Galeria Uffizi refestelando seus olhos de Boticellis, Caravaggios, Rubens, Michelangelos, Rafaels. Com calma para poder sentar na murada de Montalcino e ver os casais passando, a tarde caindo e as parreiras mudando de cor. Tranquilo para poder parar nas lojinhas de Volterra ou San Giminiano e conversar com os artesãos e vendedores. Sem preguiça para se perder nos jardins do Palazzo Medici Riccardi.
Vá com apetite para a pizza de pedaço de Roma, o espaguete ao molho de cinghiale (javali), o capuccino do Café Eustachio, o vinho na Enoteca Tognoni, o sorvete artesanal da Frigidarium. Passeie tranquilamente pelos becos de Massa Marittima, Bolgueri e Populonia e aproveite para provar o queijo com trufas cortado ali mesmo no balcão.
Prove meticulosamente cada supertuscan, barolo e chianti e descubra as mil facetas da sangiovese. De noite, pare na Cava de Noveschi e deixe o perlage dos champagnes te fazer rir à toa.
Tire um cochilo de tarde, à hora da paggegiata, escutando os sinos de Santa Maria dei Fiori ou as conversas animadas em italiano, essa língua quente. Quando acordar, entre na Officina Profumo di Santa Maria Novella e encontre o seu cheiro. Vá se intoxicando com as luzes na Piazza del Campo ou na Fontana di Trevi e não se esqueça de gastar suas calorias perambulando o Museu Vaticano ou se surpreendendo com as esculturas de Bernini.
Deixe de lado o preconceito, o relógio e os planos e vá absorvendo a Itália em goles fartos e respirando fundo. Antes mesmo de você perceber já se sentirá pertencendo àquele lugar e fará parte daquela história.

21 de outubro de 2010

Being in Montalcino is like being on a postcard. You never know when you are going to wake up and realize it's all a dream. Had I not lost my camera, you'd have at least a picture to see what I mean.

20 de outubro de 2010

I wish I could say that my b-day gift makes me the happiest person on earth but truth be told I am too hurt to let it go. I am too tired if finding out that people are not who they present themselves to be. Too old to play these games. My soul weighs so much I can barely enjoy this wonderful country. one hour at a time, I try to put this behind me and yet I find I am not strong enough. No pictures today, my friends, for I have no smile to share.

7 de outubro de 2010

Não cobiçarás


Incrível o que gente motivada faz. Incrível pensar que a gente vive na mesma época que gênios como Steve Jobs, Mark Zuckerberg e Bill Gates, gente que vive em outra era, outra atmosfera. Li outro dia que o que motiva a gente é o que, no final, dá certo e dá dinheiro. Sempre detestei falar, pensar ou planejar finanças. Coisa chata pensar em fazer uma coisa só para ficar rico, milionário que seja. Para quê? Para ter comodidade, você vai dizer, mas é possível ter comodidade sem ter conta abastada. 
Quando passei no vestibular, meu pai me ligou, pela primeira vez na vida, para tentar me convencer a fazer algo que desse dinheiro. Não funcionou antes e não funcionaria agora. Só deixei de ser professora porque precisava de mais qualidade de vida. 
De certo modo, tenho meus pais a quem culpar por quase pedir desculpas para falar sobre dinheiro. Nunca tive essa cultura de economizar, gastar, juntar, comprar, vender,  negociar. Na verdade, sempre achei que o dinheiro, assim como o poder, mostra quem realmente somos e, infelizmente, minha experiência tem sido pior a cada ano. Já rompi várias amizades por conta disso. Posso ser depressiva, OCD, maluca e não saber descrever o que me motiva, mas pobre de espírito não sou. 

6 de outubro de 2010

Major shoe crisis



Gentes, estou até tentando ser uma pessoa pheeena mas, se depender de minhas marionetes, vou ter de usar Crocs para o resto da vida. Vejamos, já eliminei rasteirinhas (doem as panturillhas), salto (apertam as marionetes), botas (canela muito fina), sandálias (machucam em cima, ou do lado, ou embaixo, ou em todo canto) e tênis (não tem do meu tamanho). Daí fico eu e os gurizinhos sentados no chão do shopping provando Crocs, que uma hora é quatro e outra é cinco. Tá vendo? Grossa é a *^$%#$#!

30 de setembro de 2010

Com vocês, Jamie Cullum.

Para quem ainda não entendeu a diferença entre regravar uma música e fazer uma versão.

The joke is on us



Meu país parou de se levar a sério justamente na melhor fase internacional, quando sua imagem estava começando a melhorar. Acompanhar as eleições no exterior é penoso. A gente ri das propagandas eleitorais, ri das colunas contra e a favor do fulano, ri dos comentários nos blogs, finge que não é no nosso país e se sente terrivelmente impotente. O Brasil precisa se olhar no espelho.

26 de setembro de 2010

Do que é feito o blues


Morar nos Istaites tem dessas coisas meio déjàvu. No começo, então, é sempre a sensação de estar em um filme. Você já viu aquela escola, aquele diner, aquela limusine com os formandos, só que agora você está no filme também, entende? Com o tempo passa e tudo aquilo faz parte da sua rotina.
Daí é hora de ir para um lugar novo e ser gratamente surpreendido. Foi assim esse fim de semana. Chegamos umas dez da noite na casa centenária, meio remendada aqui e acolá, com pôsteres de BB King na parede, mesas de fórmica já saindo o tampo... uma verdadeira espelunca. Só nossa mesa de brancos, chamando a atenção.
Sem menu, sem cerimônia, sem turista. O baterista escostado na parede com aquela cara de paisagem, o guitarrista meio escorregado na cadeira pensando na morte da bezerra, o cantor com aquele dente de ouro, na dele. E desde a primeira nota não conseguimos mais tirar os olhos da banda, nem parar de mexer o pé. Não satisfeita, vem a garçonete com peitos fartos cheios de notas de um dólar nos tirar para dançar e lá vamos os turistas mostrar de que é feito o blues. Rã, rã, do que pensávamos ser feito, até chegar a vocalista esquálida, calibrada de uísque local e uns trinta anos de fumante, com aquele soul, a voz, a história, a persona, o blues verdadeiramente. E nós, sem entender os códigos ou o ritual fomos transportados para ali mesmo: para o Mississippi.

14 de setembro de 2010

Contagem regressiva


Todo ano, no meu aniversário, eu faço uma lista das coisas que quero ou preciso para facilitar a vida daqueles que querem me presentear. Eu que compro presentes para muitas pessoas sei o quanto é difícil, ano após ano, inventar uma coisa criativa para extrair do aniversariando um "Wow". Este ano, porém, não vou fazer lista. Não poe capricho, vejam bem, mas porque o ano passado foi tão cheio de surpresas que de repente nem sei mais quem sou. Para falar a verdade, nem sei bem quantos anos vou fazer. Importa? Importa para alguém? Este ano, o que eu verdadeiramente quero é amantes de mim mesma. Quero aqueles que não me dizem o óbvio _ aquilo que consigo enxergar no espelho. Quero a ternura, o colo, o amor, a paixão, o desapego e, por que não, o impossível. Não é questão de merecimento; é carência mesmo.  E meio teste também, não nego. Talvez queira demais, bem sei, mas não seria eu mesma se não o quisesse. Enquanto isso, contagem regressiva: 15, 14...

12 de setembro de 2010

Insônia


Ai, acordei de novo. Que horas são? Quatro e meia. Que estória é essa de acordar todo dia às quatro da manhã? Não estou gostando nada dessa moda... Bem, vou fechar os olhos e pensar em coisas boas, calmas. Hmmm, deixa eu ver, estou em um lugar tranquilo. Respiro fundo. Cheirinho de lavanda esse travesseirinho que comprei. Adoro lavanda. Será que esqueci de alguma coisa para amanhã? Ah, se esqueci isso não é hora de lembrar. Preciso me concentrar em dormir. Relaxar. Isso. Respire fundo. De novo. Iiiiiiiiinnnnnnn, ooooooutttttttt, iiiiiiiiiinnnnnn, ooooooooooutttttttt. Dá trabalho respirar assim. Dá trabalho dormir. E se eu lesse alguma coisa? Quem sabe o sono bate? Não! Me recuso a me levantar ou a acender a luz. Como assim não consigo dormir? Preciso dormir porque senão fico aquele zumbi sem energia. Saco, viu? E se eu tomasse um remedinho? A essa hora? Aliás, que horas são? Cinco para as cinco. Ok, se concentre agora, Marília. Dormir. Bocejo, isso é bom, sinal do sono. Vou colocar meu white noise. Quem sabe ajuda? Ah, já que estou aqui, posto no facebook que estou acordada, às quatro da manhã, de novo, para variar. Barulho de mar ou de grilos? Mar é melhor. Mais soothing...hmmmmmm, bem melhor assim. O que será que está me incomodando? No trabalho está tudo tranquilo. Meio parado, até. A viagem está caminhando bem. Por falar nisso preciso ver aquele link com mais calma e achar tempo para reservar um tour privado do Vaticano. Não quero perder nada. Marília, dormir, lembra? Dormir. Já sei: um mantra. Estou com sono. Estou relaxada. Estou com sono. Estou relaxada. Estou com sono. Sede. Podia aproveitar e fazer xixi. Tá, agora que tomei conta de tudo, posso dormir sossegada. Esse travesseiro ainda não está bom. Não aguento mais procurar travesseiros. Daqui a pouco tenho uma fábrica. Mas também quando eu achar compro logo dois; não, três. Mas como vou saber que é bom até testar? Verdade. Preciso testar primeiro. Vou orar. Senhor, obrigada pela noite, pelo sono, pelo descanso, pelo trabalho. Obrigada pelos amigos, os de longe e os de perto. Obrigada...essa oração está parecendo de criança, hein? Melhor começar de novo: Pai querido, obrigada pela oportunidade de falar contigo e...zzzzzzzzzz

2 de setembro de 2010

O avesso do oposto


Estou começando a achar que o as pessoas preferem uma gentil falsa a uma grossa sincera. Dito isso, já aviso que me recuso a ser a primeira, uma por princípios e outra por birra mesmo. Afinal de contas, meu apelido é "Má com acento mesmo" por uma razão.

30 de agosto de 2010

Seria cômico



Uma semana depois de minha dieta de 800 calorias por dia de pura proteína eu perdi... perdi... perdi o quê mesmo? Ah, minha memória.

26 de agosto de 2010

Eating better

http://www.cbsnews.com/2300-204_162-10004624.html?tag=page

Happy National Dog's Day!


Eu não gosto de cachorro. Não gosto dos pequenos, nem dos grandes, nem dos minúsculos, nem dos de caça, nem dos peludos, nem dos pelados.
Não acho uma graça o focinho gelado e molhado deles, nem as patas em minha roupa limpa, nem o rabo abanando.
Não acho higiênico você beijar na boca dele, nem dormir com ele, nem ficar com ele dentro de casa, nadar na piscina com ele, nem passear no banco do seu carro.
Não aprecio o xixi no elevador, o cocô que você não recolhe em meu caminho para o trabalho, nem sentar em seu sofá cheio de pêlo (tudo com acento diferencial).
Não quero ver as brincadeiras que ele aprendeu, nem ouvir o latido dele, nem saber como você gasta mais dinheiro com ele do que com você mesma.
Não gosto quando você chama cachorro de "filho", não quero vê-lo no restaurante que frequento, nem  ouvir seu latido, não quero ele no meu quintal tampouco.
Não, eu não gosto de cachorro.

25 de agosto de 2010

As pessoas de Fernando Pessoa

I don’t know how many souls I have.
I’ve changed at every moment.
I always feel like a stranger.
I’ve never seen or found myself.
From being so much, I have only soul.
A man who has soul has no calm.
A man who sees is just what he sees.
A man who feels is not who he is.

Attentive to what I am and see,
I become them and stop being I.
Each of my dreams and each desire
Belongs to whoever had it, not me.
I am my own landscape,
I watch myself journey -
Various, mobile, and alone. 
Here where I am I can’t feel myself.

That’s why I read, as a stranger,
My being as if it were pages.
Not knowing what will come
And forgetting what has passed,
I note in the margin of my reading 
What I thought I felt. 
Rereading, I wonder: “Was that me?”
God knows, because he wrote it.

17 de agosto de 2010

Eu preciso saber


Então, sábado, na aula de natação (depois eu conto essa estória) a professora está com uma caca no nariz. A coleguinha de classe conta para ela que, na maior boa diz, "Olha, se tiver qualquer coisa saindo do meu corpo, PELAMORDEDEUS me avisem."
Adoro gente descolada que põe logo as cartas na mesa. Porque eu mesma já passei dias me perguntando como falar pra uma pessoa que ela está com mau hálito ou para uma mãe de aluno adolescente que ele fedia.
Sim porque isso também envolve o nível de intimidade que se tem com alguém ou os costumes do lugar. Dizer o quê para nariz escorrendo? Braguilha aberta? Papel higiênico no sapato? Fico eu mais embaraçada do que o pobre coitado.
Enquanto nem todo mundo leu o manual de etiqueta, só por desencargo de consciência, repito as palavras de minha professora "PELAMORDEDEUS me avisem".

13 de agosto de 2010

Que sei eu do que serei, eu que não sei quem sou?


Estou com medo de assistir Eat, Pray, Love. Tem um diabinho no meu ouvido direito me pedindo pra ver (e eu escuto melhor do ouvido esquerdo desde que estourei o tímpano quando era criança) e um anjinho no meu ouvido direito me dizendo pra evitar aborrecimentos.
"Ora", meu cérebro racionaliza, "você adora a Júlia Roberts, o enredo é ótimo e adora comédias românticas...mas peraí, a estória não é comédia e nem é romântica". Achei o medo. Medo de terem trivializado a busca real e tangível do que se quer em estória hollywoodiana. Mesmo porque saber o que se quer leva tempo, disciplina e coragem. E mesmo porque a moral da estória é que cada um tem de procurar sua receita do bolo, entende?
Eu continuo parada, ainda que os doutores da cabeça me dêem tapinhas nas costas e felicitações. O que fazer da "nova" Marília está longe de ser projeto. É mais, digamos, a vontade de querer ser projeto. Ontem fiquei até tarde pensando no que fazer com minhas férias. Sei bem o que não quero. Não quero ir ao Brasil. Não quero ficar nos EUA. Não quero ir onde já fui. Não quero ter medo de tentar coisas novas, de ir sozinha e ficar sozinha e tentar descobrir sozinha. Não quero ter preguiça, nem horário marcado, nem surpresas desagradáveis. Não quero fazer esforço, nem esperar nada.
Enquanto isso, eu penso se assisto o filme ou se leio, pela quinta vez, o livro.

9 de agosto de 2010

one mississippi, two mississippi, three mississippi...



Eu bem que tento ser boazinha. Mesmo. Mas aí dou de cara com a ignorância e a estupidez e vai tudo pelo ralo. E meu índice diário de tolerância está cada vez menor.

Tem aqueles do prédio onde moro, sumindo chaves, colando adesivos nos carros, criando novas regras que não ajudam em nada, ligando pra mim pra constatar o óbvio, trocando o lugar das minhas autorizações...

Tem os "clientes" com os emelhos sem loção, as ligações sem pé nem cabeça, os vistos sem passaporte, os passaportes sem dinheiro, as cartas que não dizem nada, as reclamações de que não falam espanhol....

Tem a companhia de seguro e meus médicos, as taxas abusivas, os horários sem condição e os pagamentos sem reembolso, os emelhos sem resposta, o óbvio, o óbvio...

Tem os "colegas", os "conhecidos dos desconhecidos", os sabe-tudo...

Depois reclamam que eu sou grossa.

7 de agosto de 2010

At last

Precisou uma virose ou qualquer-coisa-que-valha para eu finalmente tirar tempo e recomeçar meu blog. Depois de merecidas férias, no meu novo-velho apartamento, em uma noite de sábado, está tudo claro e quente em Hotlanta, inclusive a sopa que tomo, mais por gula do que por fome e mais para dar combustível para meu corpo combater as bactérias e vírus e fungos do que por vontade de comer. Queria mesmo um Haagen-Dazs de framboesa que vi no mercado quando fui comprar remédio, mas num tô podendo, sabe?


Então é assim, suando que nem chaleira, que vou falar do meu reencontro com a Sarah McLachlan. Nos encontramos aqui (imaginem!) no meio do verão sulista. Ela bebendo vinho branco e eu, água.  Ela toda de preto e eu de poá. Ela totalmente acompanhada e eu sozinha, quase que despreparada. Não que adiantasse estar preparada porque quando ela abriu a boca foi aquele assombro e voltei a ser aquela Marília que assistia Felicity e Dawson's Creek e que tomava banho aos berros no chuveiro (coitada de minha mãe) com a fita (rã rã) de Mirrorball a toda na TV. Ah, aquela Marília era tão inocente e tão triste e tão sonhadora e tão diferente desta Marília. 


E a gente conversou, falou do passado, escapou de fazer planos pro futuro e ficamos no momento mesmo, curtindo que nem duas amigas que não se vêem há tempo. E aí eu lembrei o quanto somos parecidas e o porquê de nossa afinidade e me enchi daquele gostinho familiar de saudade e de aconchego também. Se tem foto? Tem sim, mas to achando a foto tão aquém do que aconteceu, tão pequena... assim que baixar os áudios, porém, eu garanto que posto (será que posso usar o verbo "postar" assim?). 


Agora, de volta para o meu apartamento, enquanto eu escrevo com o corpo doído e a garganta coçando, curto os últimos momentos desse sentimento gostoso que foi tirar férias, rever amigos e ídolos e me reencontrar. Boa noite.