15 de setembro de 2011

Uma casa muito engraçada




Quem morou ou mora no exterior sabe o quanto é importante encontrar uma casa que tenha seu nome escrito em dourado na porta, convidando você a ficar porque, no frigir dos ovos, este será o único lugar no país em que você se sentirá “em casa”. Apesar de eu já ter morado fora, estou prestes a descobrir qual é a cara dessa minha casa. Sim, porque antes eu morava com outra pessoa, que também ajudou a criar tudo aquilo, e depois fui morar em um apartamento já mobiliado, que tinha a carinha das madames americanas e muito pouco da Marília. Assim, em busca dessa idéia que nem imagem tem, comecei a procurar lugar para morar em Roma, dentro dos meus limites orçamentários e dos meus sonhos platônicos.
Começamos com o básico, certo? A casa deve ter quarto, banheiro, sala e cozinha. Errr… nem todas. Aqui muitos imóveis vêm sem cozinha ou com uma cozinha da Barbie para você relembrar os tempos de brincar de cozinhadinho.  Além do que é preciso estar preparado para dividir esse quase espaço com a lavanderia (por lavanderia entenda-se máquina de lavar). Você frita o bife com uma mão e torce a roupa com a outra.
Passemos aos quartos. Esses sim, enormes, largos, fartos e completamente vazios. Nem uma prateleira para amontoar as roupas. Mas também não precisa de armário, uma vez que não se vê nada de noite, já que faltam lâmpadas na maioria deles. Note to self: comprar abajures.
Banheiros têm. Às vezes até três em uma casa de dois quartos. E com muitos bidês já que espaço obviamente não é um problema em prédios centenares.
Depois de um mês de frustração, começo a entender o conceito de casa italiano. (Alguém pelamordeDeus pegue aquele bebê do vizinho e veja o que há de errado. Isso não é normal). O importante é que se more em um palazzo (prédio antigo) com elevador em que cabem somente dois etíopes e com teto de madeira. Ah, os tetos de madeira! Que esplendor! São tão importantes que tem site imobiliário que só põe foto do teto. Que importa o chão onde você pisa com um teto desses? Melhor ainda se o apartamento tiver os cômodos em vários planos, porque daí é só ficar olhando pro teto enquanto se transita pela casa. Ah, Michelangelo, que mal fizeste aos romanos!
Passa o primeiro um mês e começo a ficar impaciente.  Será que nenhum me serve mesmo ou estou sendo muito exigente? Quem precisa de cozinha na Itália? E lavanderia? Coisa de Amélia, isso. Começo a achar tudo carino (palavra especialmente importante quando não se sabe como classificar alguma coisa ou pessoa). Prédio sem elevador? Carino. Apartamento com um quarto e meio? Carino. Louça do banheiro do tempo da sua bisavó? Carino demais.
Agora é questão de achar um dentro do orçamento. A corretora me convence que consigo quase mil euros de abatimento com o proprietário, que negocia até a mãe, se necessário, mas logo vejo que não é bem assim. Depois de reduzir as expectativas e as possibilidades para quatro apartamentos, começo a fazer as ofertas. Un po’piu tarde. Esse já foi alugado. Aquele outro também. Este aqui está com outra pessoa que fez proposta. Começa a bater o desespero: puxa vida, será que nem apartamento eu consigo arrumar? E para aumentar em um grau minha perdição, preciso passar no quintal da casa da minha mãe, onde cultivo uma árvore de dinheiro, para poder pagar o tal depósito mais a comissão do agente imobiliário. Serão assim, de entrada, três aluguéis para o dono e um para a corretora. Isto é, se a comissão não for dez por cento do valor anual do aluguel, acrescido de vinte por cento de imposto. Nessa hora abro a lista telefônica e começo a procurar onde posso vender um rim.  Ficou um candidato. Afio a peixeira, esquento o sangue paraibano e faço uma proposta ousada. Vocês, façam figa (que depois conto o que significa aqui) e mandem pensamentos positivos senão não vão ter onde ficar quando vierem me visitar. A resposta eu digo quando tiver.

4 de setembro de 2011

Inferno astral




Estou tendo uma reação alérgica a Roma. Sort of. Na verdade, meu cabelo e minha pele resolveram se voltar contra mim e eu preciso culpar alguém. Nesse caso, o bode espiatório é a água. A água aqui é feita de uma molécula de calcário e duas de oxigênio, tudo muito bom para os vinhos e as esculturas, mas péssimo para meus frágeis (e rebeldes) cabelos. Daí que a pessoa descobriu que para manter a saúde dos meu cachos, terei de lavá-los com água mineral. Sim, vocês leram bem: água mineral. Além de ser um capricho um tanto custoso, imaginem a ginástica que é segurar a garrafa com uma mão e lavar com a outra no cubículo chamado de banheiro (para se ter uma idéia, tem gente que não consegue sequer lavar os pés no box). A opção, caro leitor, é importar umas perucas chiquérrimas de Atlanta e passar a máquina.
A pele é outra estória, até agora sem solução. Pipocaram-me os ombros e o peito, modos que tenho de usar roupas com manga e sem decote. Não tem base ou pó compacto que dê conta das bolinhas vermelhas. Um drama. Assim, se alguém tiver uma idéia mirabolante do que pode ser, aceito sugestões de remedinhos possíveis de achar localmente ou presenteados por correio (por FedEx que chega mais rápido). E para fechar o início de meu inferno astral, o pescoço anda enferrujado e sem querer se mexer muito. Vou já ali na Santa Sé achar uma água benzida pelo Papa.