1 de março de 2016




E aí que eu ia escrever um post sobre como foi bom reencontrar uma pessoa querida que eu pensava que tinha perdido por aí, de como as lembranças aos poucos foram se reavivando e enchendo de novo meu coração de carinho e nostalgia, de como a intimidade que tínhamos estava só adormecida, mas não me cabem as palavras. 
Que coisa incrível isso de ser humano! De ter almas que se reconhecem a despeito de palavras, estado civil, cor da pele, tempo... Que magnífico não ter que se explicar, nem se sentir obrigado a contar tudo que se passou, e ir aos poucos vendo que a essência é aquela mesma de vinte anos atrás. E que assombro perceber que a gente nunca vai se perder!  


14 de agosto de 2013

A parte que me cabe

Há alguns anos parei de assistir TV e acompanhar notícias. Toda aquela violência e escândalo me deixavam impotente e depressiva. À medida que o noticiário crescia com notícias de corrupção, catástrofe, miséria, abandono, eu diminuía no sofá da minha sala. E aquela uma única notícia boa, ou quase boa, não era suficiente para eu recuperar minha fé na humanidade. Tampouco servia como inspiração.

Recentemente deixei de assistir filmes de hollywood, especialmente comédias românticas e afins. O mocinho nunca volta no final e na vida real as coisas não são tão engraçadas assim. Nem passam tão rapidamente. É meio cínico, eu sei, mas vai muito contra todo esse mundo de teorias e livros e modas de mindfullness. Nada mais fora do presente que uma sala de cinema (e essa é a mágica).

Dizem que a cada crítica que se ouve são necessários cinco elogios para eliminar o efeito negativo daquilo na sua alma. As pessoas, eu não sou exceção, têm mais facilidade em acreditar no que os outros falam de ruim sobre elas do que em aceitar um elogio sem desculpas ("Isso? É só uma roupa velha que achei no fundo do guarda-roupa". "Eu? Imagina! Fiz foi ganhar peso" e por aí vai).

No entanto, é uma batalha diária me separar de outras coisas, hábitos e pessoas que me fazem mal. A pessoa tá careca de saber que faz mal, mas continua se deixando ficar, se deixando atrair e se perder. E aí um oceano de ansiedade me engole querendo resultados e mudanças para ontem. Difícil não me consumir com tantos porquês. Até eu me lembrar que sou humana e que essa é a tal cruz que cada um carrega. A cruz não são os outros. Sou eu mesma.




24 de junho de 2012

Da falta de fé



O que a gente se esquece é que é preciso muito esforço para se tornar alguém e sair do limbo e eu ando cansada de me esforçar. Desistir é sim uma opção. Quando se prefere acreditar na mentira, mesmo sabendo perfeitamente qual é a verdade. Quando se prefere a inércia ao pulo. Quando, enfim, se dorme esperando que só acordemos quando tudo tiver resolvido. O problema, meus caros, é que tenho insônia.

18 de maio de 2012

An affair to remember



Às vezes tenho a sensação de que vivo em outro tempo, em uma dimensão aqui dentro da minha cabeça. E depois que as coisas passam é que vou vivê-las, na minha cabeça. Para onde eu vou no presente? E se meu tempo não é o seu tempo, não adianta você esperar porque eu não estarei lá, mesmo que nosso encontro tenha lugar e hora marcada.

9 de maio de 2012

A graça



Meu psicólogo recentemente se juntou ao clube dos que se espantaram ao me ver chorar pela primeira vez. Aparentemente sou uma pessoa à prova de lágrimas, até que eu prove o contrário. Falávamos da minha habilidade de ver primeiro o errado, o torto, o fora de foco e depois o correto, o bom. E digo isso sem peso na consciência e sorriso tristinho porque acredito piamente que há espaço para pessoas com esse dom no mundo. Não fosse assim, quem faria os controles de qualidade?

Mas faço distinção entre criticar e ver o odd one out. Não que eu o procure; ele vem aos meus olhos. Depois que meus olhos se acostumam, vejo o todo, o conjunto e a harmonia. E gosto ou não gosto. Aí vem a crítica. Segundo alguns amigos, ácida, mas geralmente divertida, e sempre, sempre muito sincera.

Como qualquer coisa em excesso, quando me deixo levar pelo negativo, me esqueço de ser grata e sofro, porque a vida fica terrivelmente difícil de ser vivida e sem sentido se não se vê sua beleza.
Não é que ela não exista. Está lá, mas aos poucos meus olhos perdem a capacidade de vê-la (quem sofre de depressão sabe bem do que estou falando).

E justamente por isso, resolvi fazer um experimento sobre o qual li um dia desses. Toda noite, revejo meu dia e penso em uma coisa pela qual estou grata, sem repetir, e escrevo sobre ela. Segundo o estudo, se uma pessoa fizer isso durante vinte e um dias seguidos, "treina" o cérebro a achar o positivo e o bom mesmo na pior das situações.

Descobri então que isso que eu chamava de dom é, na verdade, uma habilidade e como tal deve ser praticada. É como andar de bicicleta: seu cérebro aprende esse caminho e depois vai automaticamente pra lá. Parece coisa de auto-ajuda, né? Talvez seja, mas era um estudo científico e para mim é mais do que um teste empírico. É exercício. Pessoas que têm pouca tolerância pela ineficiência e mediocridade como eu precisam praticar o elogio, o reconhecimento e a gratidão. Quem sabe assim aprendo a ser mais leniente até mesmo comigo mesma e me permita chorar de emoção mais frequentemente?

3 de maio de 2012

Do que é bom



Tempo atrás eu estava com uma alergia estranha nas pernas e meu dermato me passou uma loção para aliviar os sintomas. Nunca precisei usar, mas agora que o calor está chegando em Roma, a pele começou a reclamar e eu fui atrás da dita cuja, que tem o charmoso nome de "Sarna". Acontece que a Sarna tem um cheiro forte e não muito agradável e, tal qual o nome em português, gruda na pele de tal modo que nem múltiplos banhos conseguem tirar. 

Daí que eu comecei a pensar que tudo isso que "faz bem" quase sempre faz mal ao nariz. É muito chique xampu de aloe vera, mas passar babosa no cabelo espanta qualquer prospecto de namorado. Do mesmo modo, a pomada hipoglós que está no mercado desde que eu me entendo por gente e que serve pra queimadura e valha-me-Deus-o-que-mais tem o aromático cheiro de óleo de peixe, igualzinho ao da Emulsão de Scott.

O que é bom para gente não tem glamour nenhum. O par de estiletos, o corsete, a massa... tudo isso faz mal, mas a gente vai sacrificando assim mesmo e deixando o humano na gente para aqueles dias em que estamos sozinhos e nem o vizinho abelhudo consegue ver. Aí colocamos as pantufas de urso panda, o pijama de flanela e a máscara de argila do Mar Negro e dançamos no meio da sala, de preferência com uma cenoura no papel de microfone.