26 de setembro de 2010

Do que é feito o blues


Morar nos Istaites tem dessas coisas meio déjàvu. No começo, então, é sempre a sensação de estar em um filme. Você já viu aquela escola, aquele diner, aquela limusine com os formandos, só que agora você está no filme também, entende? Com o tempo passa e tudo aquilo faz parte da sua rotina.
Daí é hora de ir para um lugar novo e ser gratamente surpreendido. Foi assim esse fim de semana. Chegamos umas dez da noite na casa centenária, meio remendada aqui e acolá, com pôsteres de BB King na parede, mesas de fórmica já saindo o tampo... uma verdadeira espelunca. Só nossa mesa de brancos, chamando a atenção.
Sem menu, sem cerimônia, sem turista. O baterista escostado na parede com aquela cara de paisagem, o guitarrista meio escorregado na cadeira pensando na morte da bezerra, o cantor com aquele dente de ouro, na dele. E desde a primeira nota não conseguimos mais tirar os olhos da banda, nem parar de mexer o pé. Não satisfeita, vem a garçonete com peitos fartos cheios de notas de um dólar nos tirar para dançar e lá vamos os turistas mostrar de que é feito o blues. Rã, rã, do que pensávamos ser feito, até chegar a vocalista esquálida, calibrada de uísque local e uns trinta anos de fumante, com aquele soul, a voz, a história, a persona, o blues verdadeiramente. E nós, sem entender os códigos ou o ritual fomos transportados para ali mesmo: para o Mississippi.

Um comentário:

  1. Que delícia, Amiga. Adorei o texto e o lugar...estive lá com vocês...just now! bjus

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