8 de dezembro de 2011

No consultório psiquiátrico

Você é neurótica? Feliz? Gosta da noite? Gosta da sua vida? Tem certeza? É desconfiada? Ciumenta? Se considera brasileira? Ouve vozes? Em que posição dorme? Tem múltiplas personalidades? Com quem estou falando agora? Tem certeza? Bebe? Bebe quanto? Tem mania? TOC? Quantas vezes lava as mãos por dia? O que precisa para ser feliz? É casada? Por que não? Tem animal de estimação? Fobia? Prefere o sol ou a lua? Acredita em Deus? Destino? Reincarnação? Papel higiênico com a folha para cima ou para baixo? Qual o sentido da vida? Tem medo de morrer sozinha? Tem certeza? Pode ir para casa, não há nada de errado com você.

26 de outubro de 2011



No dia em que completei trinta anos, uma de minhas melhores amigas me liga para me dar os parabéns e me lembrar que minha corrida contra o relógio estava começando. Daí em diante, sempre tem alguém por perto que se incomoda com o fato de eu ser (ou será estar?) solteira. E por que será que incomoda o stigma? O artigo All the Single Ladies da escritora norte-americana Kate Bolick  examina de perto a causa do número crescente de mulheres solteiras no mundo e chega à seguinte conclusão: ou a mulher aceita casar-se com um homem "bom o suficiente" ou precisa rever os conceitos tradicionais de família, romance e casamento.

O primeiro fator culpado do aumento do número de solteiros é o fato das pessoas estarem se casando cada vez mais tarde. Isso devido à mentalidade contemporânea de atigir primeiramente satisfação pessoal; ou seja, antes de formar família, vêm estudos, carreira bem sucedida e independência financeira. Chega-se ao ponto de discriminar a mulher que se diz "do lar" (será que ela não tem ambição? auto-estima? vergonha?).

Do mesmo modo, as mulheres têm engravidado mais velhas, quando decidem ter filhos, e não dependem do homem para fazê-lo graça aos avanços da medicina. Uma conhecida acaba de dar à luz aos quarenta e dois anos em uma gravidez de fazer inveja às adolescentes. Seja por opção ou por abandono, ser mãe solteira deixou de ser motivo de vergonha ou desonra.

Outro fator desfavorável ao casamento é o desequilíbrio na proporção entre homens e mulheres na maioria dos países. Estudos mostram que em sociedades onde há mais homens, embora os direitos como educação e salário das mulheres diminua, há maior valorização do sexo feminino, mais casamentos e menos divórcios. Infelizmente, o contrário não se aplica. Em sociedades onde o número de mulheres é maior do que o dos homens, aumenta a margem de promiscuidade masculina e a taxa de casamentos cai. Nem é preciso dizer que nesse modelo quem se benefícia são os homens, que passam a ditar as regras do jogo. Considere que um bom partido pode se dar ao luxo de trocar de parceira o quanto quiser e não se comprometer com nenhuma.

Em quarto lugar, Bolick afirma que o movimento feminista gerou a ascensão da mulher e o consequente declínio do homem (a literatura sobre esse assunto é riquíssima). Há inúmeros estudos que comprovam que atualmente a mulher é  mais bem qualificada profissional ou educacionalmente do que o homem. Com mais mulheres assumindo cargos altos e ganhando mais, fica mais difícil encontrar homens do mesmo nível social. O resultado? O homem aceita não ser mais o provedor da família e a mulher aceita um homem de nível inferior ao seu.

Mas nem tudo é ruim neste cenário. Com a independência feminina, o casamento passa a ser uma escolha e não um meio de ascensão social ou obrigação e o conceito atual de um bom relacionamento abrange casais cada vez mais mistos: mulheres mais velhas com homens mais novos, mais ricas com mais pobres, mais altas com mais baixos, etc). Diante desses dados sei que parece que achar um companheiro parece ser um lance de sorte. E é. Mas se olharmos de um outro ângulo, não é também sorte sermos testemunhas de tantas mudanças e poder vivenciar um mundo com mais possibilidades?


15 de setembro de 2011

Uma casa muito engraçada




Quem morou ou mora no exterior sabe o quanto é importante encontrar uma casa que tenha seu nome escrito em dourado na porta, convidando você a ficar porque, no frigir dos ovos, este será o único lugar no país em que você se sentirá “em casa”. Apesar de eu já ter morado fora, estou prestes a descobrir qual é a cara dessa minha casa. Sim, porque antes eu morava com outra pessoa, que também ajudou a criar tudo aquilo, e depois fui morar em um apartamento já mobiliado, que tinha a carinha das madames americanas e muito pouco da Marília. Assim, em busca dessa idéia que nem imagem tem, comecei a procurar lugar para morar em Roma, dentro dos meus limites orçamentários e dos meus sonhos platônicos.
Começamos com o básico, certo? A casa deve ter quarto, banheiro, sala e cozinha. Errr… nem todas. Aqui muitos imóveis vêm sem cozinha ou com uma cozinha da Barbie para você relembrar os tempos de brincar de cozinhadinho.  Além do que é preciso estar preparado para dividir esse quase espaço com a lavanderia (por lavanderia entenda-se máquina de lavar). Você frita o bife com uma mão e torce a roupa com a outra.
Passemos aos quartos. Esses sim, enormes, largos, fartos e completamente vazios. Nem uma prateleira para amontoar as roupas. Mas também não precisa de armário, uma vez que não se vê nada de noite, já que faltam lâmpadas na maioria deles. Note to self: comprar abajures.
Banheiros têm. Às vezes até três em uma casa de dois quartos. E com muitos bidês já que espaço obviamente não é um problema em prédios centenares.
Depois de um mês de frustração, começo a entender o conceito de casa italiano. (Alguém pelamordeDeus pegue aquele bebê do vizinho e veja o que há de errado. Isso não é normal). O importante é que se more em um palazzo (prédio antigo) com elevador em que cabem somente dois etíopes e com teto de madeira. Ah, os tetos de madeira! Que esplendor! São tão importantes que tem site imobiliário que só põe foto do teto. Que importa o chão onde você pisa com um teto desses? Melhor ainda se o apartamento tiver os cômodos em vários planos, porque daí é só ficar olhando pro teto enquanto se transita pela casa. Ah, Michelangelo, que mal fizeste aos romanos!
Passa o primeiro um mês e começo a ficar impaciente.  Será que nenhum me serve mesmo ou estou sendo muito exigente? Quem precisa de cozinha na Itália? E lavanderia? Coisa de Amélia, isso. Começo a achar tudo carino (palavra especialmente importante quando não se sabe como classificar alguma coisa ou pessoa). Prédio sem elevador? Carino. Apartamento com um quarto e meio? Carino. Louça do banheiro do tempo da sua bisavó? Carino demais.
Agora é questão de achar um dentro do orçamento. A corretora me convence que consigo quase mil euros de abatimento com o proprietário, que negocia até a mãe, se necessário, mas logo vejo que não é bem assim. Depois de reduzir as expectativas e as possibilidades para quatro apartamentos, começo a fazer as ofertas. Un po’piu tarde. Esse já foi alugado. Aquele outro também. Este aqui está com outra pessoa que fez proposta. Começa a bater o desespero: puxa vida, será que nem apartamento eu consigo arrumar? E para aumentar em um grau minha perdição, preciso passar no quintal da casa da minha mãe, onde cultivo uma árvore de dinheiro, para poder pagar o tal depósito mais a comissão do agente imobiliário. Serão assim, de entrada, três aluguéis para o dono e um para a corretora. Isto é, se a comissão não for dez por cento do valor anual do aluguel, acrescido de vinte por cento de imposto. Nessa hora abro a lista telefônica e começo a procurar onde posso vender um rim.  Ficou um candidato. Afio a peixeira, esquento o sangue paraibano e faço uma proposta ousada. Vocês, façam figa (que depois conto o que significa aqui) e mandem pensamentos positivos senão não vão ter onde ficar quando vierem me visitar. A resposta eu digo quando tiver.

4 de setembro de 2011

Inferno astral




Estou tendo uma reação alérgica a Roma. Sort of. Na verdade, meu cabelo e minha pele resolveram se voltar contra mim e eu preciso culpar alguém. Nesse caso, o bode espiatório é a água. A água aqui é feita de uma molécula de calcário e duas de oxigênio, tudo muito bom para os vinhos e as esculturas, mas péssimo para meus frágeis (e rebeldes) cabelos. Daí que a pessoa descobriu que para manter a saúde dos meu cachos, terei de lavá-los com água mineral. Sim, vocês leram bem: água mineral. Além de ser um capricho um tanto custoso, imaginem a ginástica que é segurar a garrafa com uma mão e lavar com a outra no cubículo chamado de banheiro (para se ter uma idéia, tem gente que não consegue sequer lavar os pés no box). A opção, caro leitor, é importar umas perucas chiquérrimas de Atlanta e passar a máquina.
A pele é outra estória, até agora sem solução. Pipocaram-me os ombros e o peito, modos que tenho de usar roupas com manga e sem decote. Não tem base ou pó compacto que dê conta das bolinhas vermelhas. Um drama. Assim, se alguém tiver uma idéia mirabolante do que pode ser, aceito sugestões de remedinhos possíveis de achar localmente ou presenteados por correio (por FedEx que chega mais rápido). E para fechar o início de meu inferno astral, o pescoço anda enferrujado e sem querer se mexer muito. Vou já ali na Santa Sé achar uma água benzida pelo Papa.

29 de agosto de 2011

Roma não se fez em um dia



Passei minha segunda semana tentando entender a lógica romana _ tarefa um tanto inglória, confesso. Em minha busca por casa, gastei meus dedos ligando para as imobiliárias, meu tempo procurando apartamento na internet e em jornais e meu vocabulário italiano inteirinho deixando mensagens de voz. O saldo é que aprendi que o tempo romano é outro, quase atemporal, e que sem doses abundantes de paciência não conseguirei manter os cabelos na cabeça.  Apesar das muitas sessões de terapia me preparando para a mudança de marcha que enfrentaria aqui, descobri que vou precisar de muito mais vinho do que antecipei.

Obviamente é cedo para bater o martelo, mas nas minhas duas primeiras semanas, não estou impressionada com a comida e não achei vinho digno de nota, coisas pelas quais os italianos são conhecidos. Por enquanto, vou vivendo da beleza da cidade; essa sim incontestável, e das pequenas descobertas da vida aqui.  O romano esconde a geladeira por trás de armários, fecha a sorveteria na semana mais quente do ano para ir pra praia, constrói cozinhas menores que os banheiros, mora com a mamma até depois dos quarenta, adora fritura, mas considera manteiga uma aberração calórica, fuma compulsivamente, vende sal na tabacaria e fósforos em loja de decoração e se veste invejavelmente bem. Aliás, acho que esse negócio do fósforo ainda é resquício do incêndio provocado por Nero. Com trauma não se brinca.

Junte-se a isso minha dificuldade em encarnar o papel de gente grande. Tomar tantas decisões pequenas que farão o conjunto valer a pena é pesado. Morar um pouco mais longe e ter uma casa maior ou ficar no centro em um apartamento menor? Pegar ônibus pro trabalho ou ir caminhando? Qual telefone ter? Que plano? Empregada ou não empregada? Tudo muito adulto e muito novo. E aqui ainda não tenho meu faro. Nem referência. E nem lógica. Tem só aquela pessoa que está me encarando no espelho com cara de interrogação.

PS. Agora que o vizinho da frente passou a colocar mantra budista e incenso toda tarde para vizinhança, o bebê finalmente parou de chorar. 

22 de agosto de 2011

Conselhos cínicos de uma velha cidadã do mundo*



Querida amiga mulher,
Hesitei muito em escrever essa carta, pois penso que conselho nunca é a maneira menos eficaz de ajudar um necessitado, mas diante das parcas opções, esta lhe servirá por agora. Lembro-lhe que também fui jovem e tive, como você e até mais, amores impossíveis e arrebatadores. Ffalo com juízo de causa.
Antes de sair de seu país para viver com sua cara-metade, considere as seguintes questões: você é adulta e deve se responsabilizar pelas suas decisões. Não adianta culpar o país do outro, a família do outro, a cultura do outro. Se você já é grande o suficiente para decidir morar com o outro, é grande o suficiente para assumir seus erros.
Aprenda a língua antes de ir morar no país e de ter filhos com ele. Nunca se sabe o que vai acontecer. Ele pode morrer em um acidente, ir pra guerra, ser raptado ou simplesmente te espancar diariamente e você vai precisar saber se comunicar se quiser sobreviver.
Creia que todo ser humano, sob certa pressão, é capaz de fazer coisas que normalmente não faria. Aquele homem doce, carinhoso, amoroso pode sim se tornar o monstro que te tranca em casa e rapta seus filhos. Assim como você também, sentindo-se ameaçada, é capaz de muito mais.
Não se pode ter o melhor de dois mundos, então aprenda a conviver com as diferenças e a não ligar a cada briga para o consulado brasileiro. Crie ao seu redor uma rede de proteção e comunicação constante com outras pessoas. Assim, caso necessário, você terá testemunhas e com quem contar.
E por último, simplifique sua vida. Quanto menos maridos, filhos, divórcios, casamentos e nomes você tiver, mais perto da paz almejada você estará, não importa onde ou com quem.

* Baseado em fatos reais e no livro que estou lendo.

18 de agosto de 2011

Sobre todas as coisas



Estou desconfiada que o bebê do vôo mora no vizinho da frente. Devido a quantidade de melatonina que estou tomando para me adaptar ao fuso horário, decidi que nunca mais saio daqui, a não ser para lugares com duas horas a mais ou a menos. Não bastasse a insônia normal, agora durmo na hora que preciso estar acordada e acordo quando deveria estar dormindo.
Descobri a primeira grande maravilha de Roma. Não, não são as gelaterias; são as fontes de água geladinha espalhadas pela cidade. Você anda um pouco, sua que nem chaleira até a próxima fonte, molha o rosto, o cabelo, os pés, o que mais te deixarem e continua sua marcha até o próximo ponto turístico. Eu sei, era pra eu estar procurando escola de italiano, academia, casa… mas até o fim de agosto tenho sorte do mercado da esquina estar aberto (o caixa me perguntou ontem se sou turista. Ele não entende que, como está tudo fechado, só dá pra visitar o mercado mesmo).
E agora que tenho internet, minha grande conquista será um adaptador que funcione nessa tomadas. Aqui em Roma tem tomada para todos os gostos, menos para o dos meus aparelhos. Tem de três furinhos seguidos, dois em cima e um embaixo, um maior e outro menor, um mais achatadinho mas não tem adaptador universal que se adapte ao sistema americano e ao romano ao mesmo tempo. Assim, passo boa parte das tardes me perdendo nas ruas da cidade e descobrindo que realmente todos os caminhos levam a Roma, porque sempre volto ao mesmo lugar. Nasci desprovida de GPS interno, fazer o quê?

17 de agosto de 2011

Capítulo 2: Roma

Chego em Roma ainda com o ouvido zunindo por causa do choro daquele bebê na fileira atrás de mim e com muito sono, mas o motorista já está a minha espera e anda rapidinho que nem formiga guiada pelo cheiro de açúcar no meio da multidão. Lá fora a cidade me saúda com belos 450 graus, na sombra.
Como o motorista não sabe bem onde morarei pelo próximo mês, liga para a corretora para pegar referências, que nos levam até a esquina de uma rua com o nome parecido com o da rua onde veramente viverei. Passamos os dois, carregados de malas, pela corretora, ocupada demais ao telefone para nos notar e, depois de cinco voltas no quarteirão, damos de cara com o beco onde o apartamento está localizado.
A primeira notícia é que o elevador do prédio está quebrado e que não há previsão de conserto, já que é ferragosto e a cidade ainda descansa na praia. A má notícia é que o apartamento fica no quarto andar, obviamente.
Subimos uma escada em espiral, pequena demais até para meu pé 33, e depois de umas quatro paradas para fôlego, entramos no apartamento. Feitos os trâmites de praxe, a inglesa me explica que depois de morar quarenta anos aqui, descobriu que é preciso abraçar a burocracia, ligar o f*-se e aproveitar esse enorme museu a céu aberto. O clima é ameno, a comida de dar inveja, o povo alegre e hospitaleiro. O que mais posso querer?
Acesso à internet e ar condicionado, talvez? Hmmmm. Hoje a tarde sem falta ela trará a chave mágica que abrirá as portas domeu mundo virtual  (que eu não me preocupe). Quanto ao ar, as janelas estão todas abertas, assim tenho ar fresco. :-S
Depois de me apresentar para o serviço, agora já bêbada de sono e cansaço, passo no "super"mercado para alguns itens básicos de sobrevivência que cabem dentro da mochila. Chego no apartamento já meio que por osmose e logicamente a inglesa, que perdeu o conceito de pontualidade britânica há anos, não me conectou ao mundo virtual.
Apesar dos 750 graus, deito e durmo pesadamente. Acordo com os sinos da igreja tocando, viro para o lado e durmo de novo. Agora, às 21h, a noite chegou por completo e com ela os pernilongos. É preciso decidir se morro de calor ou de mordidas. Como diria Scalet O'Hara, "amanhã eu penso nisso".

24 de julho de 2011

Note to the church of Christ in Atlanta

To the church of Christ on Wieuca and Re-church,

As I leave to a new journey, I want to thank each and every one of you who walked with me for the past three years. Wieuca was the first church I visited when I arrived in Atlanta and it became part of my life from that first Sunday on. Little did I know back then that your faces would accompany me through my pains, joys, obstacles and achievements in the USA.
I thank you for the opportunity of sharing bread and wine, thoughts and theologies, agreeing to disagree, help and support the community, volunteer and be actively part of the body of Christ in fellowship with you.
I thank God specially for the ones who put time and effort and faith and prayer to make Re-church happen and allow me to be part of this wonderful vision of Christianity today. I pray that God will encourage you, wherever you are now, to be a living example of what Re-church stood for. You taught me so very much and were amazingly present when I was alone and in despair. I will remember your faces and say a prayer for you so that your journey may be filled with love and courage.
To my brothers and sisters at Freedonia, may the Lord keep you and bless you. May He be the continuous   focus of you and may He multiply the love and koynonia among you many times more than I can count.To all of you, Luda, Penny, Marlee, Connie, Stephanie, Debra and Scott, Matt, Abby and Jake, Michael and Vicky, Cecil and his belated wife, Susan, Allan and Jim, Gil, Linda, Kim, John and Missy, Sharon, Robin, Steve and so many others, my sincere thank you.

Blessings and love,

Marília

2 de junho de 2011

The bigger person



Apesar de vivermos expostos à idéia de inimigos, raramente encontramos pessoas que têm inimigos. Eu, por destino ou acaso, sou uma delas.
Meus inimigos não são como os personagens de quadrinhos, altamente maquiavélicos e maniqueístas, embora eu tenha enorme dificuldade de ver seu lado humano. Tampouco são pessoas com superpoderes ou publicamente odiados. Na verdade, desde cedo, percebi que meus inimigos são assim uma mescla de Darth Vader ("I'm your father, Luke") com Coiote (os inúmeros planos infalíveis). A paixão com que me odeiam e os meios que escolhem para me prejudicar são assustadoramente reais, embora haja uma linha tênue que espera que no fim eu me redima e vá para o lado negro da força.
Confesso que apesar de tantos anos convivendo com mais do que a idéia de ter um inimigo, ainda não me acostumei com a realidade tangível de ter um ali mesmo na sala ao lado. De fato, o que mais me incomoda é não saber como agir. Ser o super-herói que dá a mão quando o inimigo está na beira do abismo só para ser ludibriada novamente ou usar meus raios mortais para eliminá-lo totalmente? Talvez desarmá-lo para que a polícia tome conta ou ainda ser a melhor cristã e dar a outra face?
Enquanto nado nesse mar de criptonita que é a dúvida, descubro que independente do meu inimigo e como vou eliminá-lo, aprendo cada dia mais sobre a capacidade humana de ser intrisicamente má. Com ou sem acento.

14 de maio de 2011

Bandeira branca



Até os vinte, o maior inimigo da mulher é a gravidez. Depois dos trinta, é a gravidade.

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Moro no quarto andar e tem uma escada ao lado do meu apartamento que dá somente para o terceiro andar, onde fica a piscina, que é cercada. Ou seja, em caso de incêndio no prédio, ou morro queimada ou afogada.

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E como está na moda por aqui prever o fim do mundo, juntei todas as evidências, li e reli a Bíblia três vezes, fiz estudos e, pelos meus cálculos, o mundo vai acabar em 2016. Modos que já que só tenho cinco aninhos para cumprir minha bucket list, declaro a guerra contra minha banha terminada e me rendo aos prazeres da carne, do peixe, das verduras, das frutas e do vinho. Se brincar, até volto a comer crustáceos só para antecipar meu juízo final.

29 de abril de 2011

Defensor dos fracos



Você leitora que tem cabelos ressecados, revoltados, revirados, dengringolados, esgulepados, alisados, encrespados, chateados, indisciplinados, alterados, esturricados, maltratados e até desenganados não precisa mais se preocupar. Com apenas vinte doletas você compra em qualquer amazon da vida o Absolut Repair da linha profissional da L'Oreal e após três lavadas já nem se reconhece no espelho. Os meus cabelos, coitados, depois de sol, água do mar, progressiva e luzes no Brasil e vendaval diário nos istaites estava de sentença dada (tesoura) antes de eu encontrar esse super-herói dos cabelos. Vai lá, bobinha, experimenta!

25 de abril de 2011

Deserto virtual

Depois de quarenta dias sem entrar no facebook e na minha amada fazendinha, além de muita terra para arar, fiquei com várias questões dançando em minha cabeça.
A primeira coisa que notei é que com a disseminação dos telefones inteligentes, a nossa tendência é preferir estar ligado ao mundo virtual. Pelo menos aqui nos Istaites, percebi que é cada vez maior o número de pessoas que estão acompanhados e mesmo assim acessam seus celulares constantemente para ver se têm novas mensagens, mensagens de texto, updates ou mesmo para checar o tempo. Não falo daqueles momentos em que um puxa o telefone para procurar a resposta para a pergunta sobre a qual todos teorizam e poucos, ou nenhum, têm a resposta.
Você já presenciou isso, se parar para pensar. Está com um amigo tomando um café e ele, mecanicamente, aperta o botão do celular como que para ter certeza de que não perdeu uma ligação, um update, uma foto ou... o quê mesmo?
Daí vem a pergunta: é mais importante, melhor, fundamental, estar com esse amigo ali, no momento, nem que seja em silêncio ou fugir para o mundo virtual de pessoas que só se veem uma vez por ano? Confesso que em várias ocasiões me senti mal. Era quase como se eu não estivesse lá ou como se fosse melhor que não estivesse. E senti culpa também, pois bem sei que fiz alguns passarem por isso.
Que vazio que faz com que procuremos na matrix a resposta para uma pergunta que nem sabemos qual é? Que emoção virtual pode suplantar a real? Que experiência? Me preocupo se daqui a algum tempo seremos capazes de viver o agora, a dor, a alegria, uma emoção qualquer que seja real. Suportar uns aos outros, a realidade, a solidão de ser dois ou mais. Me pergunto se queremos escolher, se percebemos onde essa trilha está nos levando. E como exercício, sem pretensão alguma de disciplinar, sugiro que você exercite por uns dias seu poder de estar totalmente presente na realidade, sem se preocupar com o que está acontecendo virtualmente e me conte depois como foi essa experiência. Não se preocupe, you will be back.

23 de abril de 2011

Em doses medicinais



Enquanto os laboratórios bolam novas maneiras de vender viagra (o que fazer com os que não conseguem nem mascar chicletes mais?), eu fico pensando por que ainda não inventaram prozac em jujubas ou remédio para emagrecer como cereal matinal. O público alvo certamente seria maior.

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Por outro lado, ao tomar conhecimento do, rã rã, heróico plano do governo de Atlanta para combater o desemprego, imagino se deveria usá-lo como modelo para combater meu próprio Dr Evil. Na pior das hipóteses, me protejo contra o ar condicionado frígido do escritório.

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Em uma outra descoberta nada relacionada com as anteriores, aprendo que os dinamarqueses são o povo mais feliz no mundo (bem mais crível do que os habitantes de Vanuatu, na minha opinião). No entanto, a notícia é um tanto óbvia. Você já ouviu falar de um dinamarquês feio? Pobre? Dinamarquês é tudo príncipe, magro e esbelto. E como tal, tem direito a final feliz. Para sempre.

6 de abril de 2011

Quem casa, quer casa

Uma colega vai se casar e resolver pedir a mim, sim, euzinha solteira que jamais me casei da silva, para ajudá-la com os preparativos. Como sou uma mulher mudérrrrna e preparada, já sentei e fiz listas e listas de coisas que a  noiva tem de fazer, olhar, pensar e obviamente, decidir. Sem querer entrar muito nas milhares de doideras que rolam quando se fala em festa de casamento, fiquei um tanto desapontada com o espírito não "hands-on" da moçoila e para não perder meu status de zen, larguei tudo de mão.
Apesar disso, não posso abrir mão das coisinhas fuefas que eu tenho comprado e visto e querido para minha casinha. Sim, finalmente voltou a vontade de achar tudo com a minha cara e ter naquele espaço que chamo de meu (por alguns meses, que seja).  Aqui nos Istaites a pessoa fica doida com tanto bregueço, apetrechos, e cacarecos mesmo que não goste muito do rococó.
Um dos lugares favoritos é a Paper Source, que arranca suspiros e os olhos da cara com os mimos. Dá uma olhada se você não acredita: Paper Source
Depois, tem a Etsy, que vai da casa, à pessoa, aos outros, ao ecológico, ao não-posso-viver-sem. Etsy
E para finalizar antes que a conta bancária fique vermelha, tem o World Market, onde comprei minha mesa de jantar.

3 de abril de 2011

So much to see, so little time

 Garfield 3/15/2011

Having this month on a medical leave is sort of a blessing and a curse at the same time. A blessing because I can have time to take proper care of myself and do so many things I've always wanted to do. And a curse because I get stressed trying to do all the things I have always wanted to do.
Spent the last few days watching some movies I missed on the big screen. Babies is definitely one I do not regret seeing at home. I would have scandalized everyone at the movie theater with my "awwww" and "ohhhh", "It's so fluffy I'm gonna die".
The Young Victoria I wish I had seen at the theater. I love movies about the British monarchy and sometimes regret we did not keep monarchy ourselves in Brazil. Although I must say some people, even nowadays, behave as if they're monarchs themselves.
A Long Engagement is entertaining, but a little hard to follow. It has the ever pleasant Audrey Tatoo as lead role and love, and tears, and war...
So today, international day of going to the movies, I am getting ready to see what are the latest releases.

26 de março de 2011

Vai entender


Ando pensando muito na sonoridade da palavra "fathom". Passo o dia inteirinho falando em voz alta, como um mantra: fathom, fathom, fathomless, unfathomable. E isso é só a primeira semana da licença médica.

17 de fevereiro de 2011

Quando o canto é reza

cd+roberta+sa+e+trio+madeira+-+quando+o+canto+e+reza
Eu bem que sabia que valeria a pena, mas depois de passar tanto tempo longe do Brasil, mesmo com toda insistência em ouvir música popular brasileira todos os dias, redescobri hoje porque amo tanto MPB. Entra a Roberta, bonequinha vestida de santa, e solta aquela voz límpida acompanhada do trio Madeira Brasil e dois percussionistas de peso e volta tudo num flash.
Recordo que o Brasil é feito dessa mistura exótica do samba e do atabaque, do cavaquinho e da viola, e de temas como o mar, o amor e o abandono. O show ganha pontos pela homenagem a Roque Ferreira e pelo ondular da saia de Roberta, cheia de rendas e brilhos, deslizante em sua plataforma. Não sou chegada à Bahia, mas admito que nessa noite, o canto de Roberta foi reza. Amém.

22 de janeiro de 2011

Don't give up on me

"So when I lose my way, find me 
When I loose loves chains, bind me 
At the end of all my faith to the end of all my days 
when I forget my name, remind me "*


No meio das minhas batalhas e entre todos os erros que cometi estamos nós. A possibilidade do nós. E eu tive de andar todos esses caminhos e experienciar essas dores para poder dizer sim ao seu amor. Não é, como eu pensava, um amor sem limites. É um amor cuja fundação nada mais é que a realidade do que eu sou e a esperança do que podemos ser. É o amor pelo qual anseio, que atravessa as tempestades e se sabe bastante. É a mão que segura a minha no medo, que me alimenta na fome, o ombro que me cuida quando somente as lágrimas conseguem expressar o que sinto, que anda ao meu lado pelo vale da sombra da morte. E eu me sentiria indigna não fosse tudo que atravessei para estar aqui. Trabalho em progresso, vida em suspenso.

*http://www.youtube.com/watch?v=NtTa81LyuQM

6 de janeiro de 2011

Do que é bom

Chico que me perdoe, mas bom mesmo é comer sua comida predileta feita pela mamãe. É ser surpreendido com um telefonema de alguém que você não vê há muito tempo. Bom mesmo é terminar de ler aquele livro que você não conseguiu deixar de lado. É  amar e ser amado, preferencialmente pela mesma pessoa. Bom mesmo é ser abraçado sem precisar pedir, comer sem contar caloria, gastar sem se preocupar com o saldo. É ganhar presente do Papai Noel, passar em uma prova difícil, rir de dar dor na barriga, segurar neném no colo, beber aquele vinho caro, ter saúde para esbanjar. Bom mesmo é ter para quem contar o dia, o pesadelo, os sonhos, as estórias.  Ter alguém ao seu lado, nem que seja para segurar sua mão em silêncio e fechar os olhos de noite e dormir.

3 de janeiro de 2011

Sempre rir, sempre rir


No final do ano passado fiz parte de uma pesquisa sobre felicidade. Dois professores de Harvard estão tentando descobrir o quanto nossa felicidade está ligada ao nosso nível de atenção. Os resultados são parciais, mas indicam que quanto mais focado no que se está fazendo, mais feliz se sente. O que não deixa de ser surpreendente nesta época em que quase todos fazem pelo menos três coisas ao mesmo tempo (quem não tem abertas no mínimo três páginas na internet concomitantemente? Ou come assistindo TV ou lendo? Afinal, estamos todos sempre com muita pressa em nos atualizar).

O estudo se dá principalmente por meio de um aplicativo gratuito que se baixa no Iphone, chamado trackyourhappiness. Durante algumas semanas, três vezes por dia, em horários diferentes, chegam perguntas sobre o que se está fazendo naquele momento. As perguntas, apesar de muito simples, fazem pensar. Coisas como: você quer fazer o que está fazendo? você tem de fazer o que está fazendo? se pudesse olhar para trás para este momento, em que medida ele impactaria sua vida? qual seu grau de interação nessa conversa? você está se sentindo pressionado/com medo/coagido?

Antes mesmo de ver meus resultados, comecei a perceber pequenas coisas sobre mim e meu grau de, senão felicidade, satisfação. Quando estava internada, as enfermeiras nos faziam relatar três vezes por dia como nos sentíamos e sempre me maravilhei como nosso estado de ânimo depende do meio-ambiente, das pessoas ao nosso redor e de um esforço próprio.

Não chego a advogar que só se deixa chatear com o babaca que te fecha no trânsito quem não se conhece, mas acredito que esse tipo de estudo ou o daily mood check nos ajudam a descobrir mecanismos de sobrevivência em um cotidiano cada dia mais estressante e, sobretudo, a conhecer melhor o que nos tira do sério e quais ferramentas funcionam para cada um.