Passei minha segunda semana tentando entender a lógica romana _ tarefa um tanto inglória, confesso. Em minha busca por casa, gastei meus dedos ligando para as imobiliárias, meu tempo procurando apartamento na internet e em jornais e meu vocabulário italiano inteirinho deixando mensagens de voz. O saldo é que aprendi que o tempo romano é outro, quase atemporal, e que sem doses abundantes de paciência não conseguirei manter os cabelos na cabeça. Apesar das muitas sessões de terapia me preparando para a mudança de marcha que enfrentaria aqui, descobri que vou precisar de muito mais vinho do que antecipei.
Obviamente é cedo para bater o martelo, mas nas minhas duas primeiras semanas, não estou impressionada com a comida e não achei vinho digno de nota, coisas pelas quais os italianos são conhecidos. Por enquanto, vou vivendo da beleza da cidade; essa sim incontestável, e das pequenas descobertas da vida aqui. O romano esconde a geladeira por trás de armários, fecha a sorveteria na semana mais quente do ano para ir pra praia, constrói cozinhas menores que os banheiros, mora com a mamma até depois dos quarenta, adora fritura, mas considera manteiga uma aberração calórica, fuma compulsivamente, vende sal na tabacaria e fósforos em loja de decoração e se veste invejavelmente bem. Aliás, acho que esse negócio do fósforo ainda é resquício do incêndio provocado por Nero. Com trauma não se brinca.
Junte-se a isso minha dificuldade em encarnar o papel de gente grande. Tomar tantas decisões pequenas que farão o conjunto valer a pena é pesado. Morar um pouco mais longe e ter uma casa maior ou ficar no centro em um apartamento menor? Pegar ônibus pro trabalho ou ir caminhando? Qual telefone ter? Que plano? Empregada ou não empregada? Tudo muito adulto e muito novo. E aqui ainda não tenho meu faro. Nem referência. E nem lógica. Tem só aquela pessoa que está me encarando no espelho com cara de interrogação.
PS. Agora que o vizinho da frente passou a colocar mantra budista e incenso toda tarde para vizinhança, o bebê finalmente parou de chorar.
PS. Agora que o vizinho da frente passou a colocar mantra budista e incenso toda tarde para vizinhança, o bebê finalmente parou de chorar.
Coisa que descobri com as viagens que fiz por aí: muita, mas MUITA coisa é overrated...
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