9 de maio de 2012
A graça
Meu psicólogo recentemente se juntou ao clube dos que se espantaram ao me ver chorar pela primeira vez. Aparentemente sou uma pessoa à prova de lágrimas, até que eu prove o contrário. Falávamos da minha habilidade de ver primeiro o errado, o torto, o fora de foco e depois o correto, o bom. E digo isso sem peso na consciência e sorriso tristinho porque acredito piamente que há espaço para pessoas com esse dom no mundo. Não fosse assim, quem faria os controles de qualidade?
Mas faço distinção entre criticar e ver o odd one out. Não que eu o procure; ele vem aos meus olhos. Depois que meus olhos se acostumam, vejo o todo, o conjunto e a harmonia. E gosto ou não gosto. Aí vem a crítica. Segundo alguns amigos, ácida, mas geralmente divertida, e sempre, sempre muito sincera.
Como qualquer coisa em excesso, quando me deixo levar pelo negativo, me esqueço de ser grata e sofro, porque a vida fica terrivelmente difícil de ser vivida e sem sentido se não se vê sua beleza.
Não é que ela não exista. Está lá, mas aos poucos meus olhos perdem a capacidade de vê-la (quem sofre de depressão sabe bem do que estou falando).
E justamente por isso, resolvi fazer um experimento sobre o qual li um dia desses. Toda noite, revejo meu dia e penso em uma coisa pela qual estou grata, sem repetir, e escrevo sobre ela. Segundo o estudo, se uma pessoa fizer isso durante vinte e um dias seguidos, "treina" o cérebro a achar o positivo e o bom mesmo na pior das situações.
Descobri então que isso que eu chamava de dom é, na verdade, uma habilidade e como tal deve ser praticada. É como andar de bicicleta: seu cérebro aprende esse caminho e depois vai automaticamente pra lá. Parece coisa de auto-ajuda, né? Talvez seja, mas era um estudo científico e para mim é mais do que um teste empírico. É exercício. Pessoas que têm pouca tolerância pela ineficiência e mediocridade como eu precisam praticar o elogio, o reconhecimento e a gratidão. Quem sabe assim aprendo a ser mais leniente até mesmo comigo mesma e me permita chorar de emoção mais frequentemente?
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