18 de maio de 2012
An affair to remember
Às vezes tenho a sensação de que vivo em outro tempo, em uma dimensão aqui dentro da minha cabeça. E depois que as coisas passam é que vou vivê-las, na minha cabeça. Para onde eu vou no presente? E se meu tempo não é o seu tempo, não adianta você esperar porque eu não estarei lá, mesmo que nosso encontro tenha lugar e hora marcada.
9 de maio de 2012
A graça
Meu psicólogo recentemente se juntou ao clube dos que se espantaram ao me ver chorar pela primeira vez. Aparentemente sou uma pessoa à prova de lágrimas, até que eu prove o contrário. Falávamos da minha habilidade de ver primeiro o errado, o torto, o fora de foco e depois o correto, o bom. E digo isso sem peso na consciência e sorriso tristinho porque acredito piamente que há espaço para pessoas com esse dom no mundo. Não fosse assim, quem faria os controles de qualidade?
Mas faço distinção entre criticar e ver o odd one out. Não que eu o procure; ele vem aos meus olhos. Depois que meus olhos se acostumam, vejo o todo, o conjunto e a harmonia. E gosto ou não gosto. Aí vem a crítica. Segundo alguns amigos, ácida, mas geralmente divertida, e sempre, sempre muito sincera.
Como qualquer coisa em excesso, quando me deixo levar pelo negativo, me esqueço de ser grata e sofro, porque a vida fica terrivelmente difícil de ser vivida e sem sentido se não se vê sua beleza.
Não é que ela não exista. Está lá, mas aos poucos meus olhos perdem a capacidade de vê-la (quem sofre de depressão sabe bem do que estou falando).
E justamente por isso, resolvi fazer um experimento sobre o qual li um dia desses. Toda noite, revejo meu dia e penso em uma coisa pela qual estou grata, sem repetir, e escrevo sobre ela. Segundo o estudo, se uma pessoa fizer isso durante vinte e um dias seguidos, "treina" o cérebro a achar o positivo e o bom mesmo na pior das situações.
Descobri então que isso que eu chamava de dom é, na verdade, uma habilidade e como tal deve ser praticada. É como andar de bicicleta: seu cérebro aprende esse caminho e depois vai automaticamente pra lá. Parece coisa de auto-ajuda, né? Talvez seja, mas era um estudo científico e para mim é mais do que um teste empírico. É exercício. Pessoas que têm pouca tolerância pela ineficiência e mediocridade como eu precisam praticar o elogio, o reconhecimento e a gratidão. Quem sabe assim aprendo a ser mais leniente até mesmo comigo mesma e me permita chorar de emoção mais frequentemente?
3 de maio de 2012
Do que é bom
Tempo atrás eu estava com uma alergia estranha nas pernas e meu dermato me passou uma loção para aliviar os sintomas. Nunca precisei usar, mas agora que o calor está chegando em Roma, a pele começou a reclamar e eu fui atrás da dita cuja, que tem o charmoso nome de "Sarna". Acontece que a Sarna tem um cheiro forte e não muito agradável e, tal qual o nome em português, gruda na pele de tal modo que nem múltiplos banhos conseguem tirar.
Daí que eu comecei a pensar que tudo isso que "faz bem" quase sempre faz mal ao nariz. É muito chique xampu de aloe vera, mas passar babosa no cabelo espanta qualquer prospecto de namorado. Do mesmo modo, a pomada hipoglós que está no mercado desde que eu me entendo por gente e que serve pra queimadura e valha-me-Deus-o-que-mais tem o aromático cheiro de óleo de peixe, igualzinho ao da Emulsão de Scott.
O que é bom para gente não tem glamour nenhum. O par de estiletos, o corsete, a massa... tudo isso faz mal, mas a gente vai sacrificando assim mesmo e deixando o humano na gente para aqueles dias em que estamos sozinhos e nem o vizinho abelhudo consegue ver. Aí colocamos as pantufas de urso panda, o pijama de flanela e a máscara de argila do Mar Negro e dançamos no meio da sala, de preferência com uma cenoura no papel de microfone.
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