Quem morou ou mora no exterior sabe o quanto é importante
encontrar uma casa que tenha seu nome escrito em dourado na porta, convidando
você a ficar porque, no frigir dos ovos, este será o único lugar no país em que
você se sentirá “em casa”. Apesar de eu já ter morado fora, estou prestes a
descobrir qual é a cara dessa minha casa. Sim, porque antes eu morava com outra
pessoa, que também ajudou a criar tudo aquilo, e depois fui morar em um
apartamento já mobiliado, que tinha a carinha das madames americanas e muito
pouco da Marília. Assim, em busca dessa idéia que nem imagem tem, comecei a procurar
lugar para morar em Roma, dentro dos meus limites orçamentários e dos meus
sonhos platônicos.
Começamos com o básico, certo? A casa deve ter quarto,
banheiro, sala e cozinha. Errr… nem todas. Aqui muitos imóveis vêm sem cozinha
ou com uma cozinha da Barbie para você relembrar os tempos de brincar de
cozinhadinho. Além do que é preciso
estar preparado para dividir esse quase espaço com a lavanderia (por lavanderia
entenda-se máquina de lavar). Você frita o bife com uma mão e torce a roupa com
a outra.
Passemos aos quartos. Esses sim, enormes, largos, fartos e
completamente vazios. Nem uma prateleira para amontoar as roupas. Mas também
não precisa de armário, uma vez que não se vê nada de noite, já que faltam
lâmpadas na maioria deles. Note to self:
comprar abajures.
Banheiros têm. Às vezes até três em uma casa de dois
quartos. E com muitos bidês já que espaço obviamente não é um problema em
prédios centenares.
Depois de um mês de frustração, começo a entender o conceito
de casa italiano. (Alguém pelamordeDeus pegue aquele bebê do vizinho e veja o
que há de errado. Isso não é normal). O importante é que se more em um palazzo (prédio antigo) com elevador em que
cabem somente dois etíopes e com teto de madeira. Ah, os tetos de madeira! Que
esplendor! São tão importantes que tem site
imobiliário que só põe foto do teto. Que importa o chão onde você pisa com um
teto desses? Melhor ainda se o apartamento tiver os cômodos em vários planos,
porque daí é só ficar olhando pro teto enquanto se transita pela casa. Ah,
Michelangelo, que mal fizeste aos romanos!
Passa o primeiro um mês e começo a ficar impaciente. Será que nenhum me serve mesmo ou estou sendo
muito exigente? Quem precisa de cozinha na Itália? E lavanderia? Coisa de
Amélia, isso. Começo a achar tudo carino
(palavra especialmente importante quando não se sabe como classificar alguma
coisa ou pessoa). Prédio sem elevador? Carino.
Apartamento com um quarto e meio? Carino.
Louça do banheiro do tempo da sua bisavó? Carino
demais.
Agora é questão de achar um dentro do orçamento. A corretora
me convence que consigo quase mil euros de abatimento com o proprietário, que
negocia até a mãe, se necessário, mas logo vejo que não é bem assim. Depois de
reduzir as expectativas e as possibilidades para quatro apartamentos, começo a
fazer as ofertas. Un po’piu tarde.
Esse já foi alugado. Aquele outro também. Este aqui está com outra pessoa que
fez proposta. Começa a bater o desespero: puxa vida, será que nem apartamento
eu consigo arrumar? E para aumentar em um grau minha perdição, preciso passar
no quintal da casa da minha mãe, onde cultivo uma árvore de dinheiro, para
poder pagar o tal depósito mais a comissão do agente imobiliário. Serão assim,
de entrada, três aluguéis para o dono e um para a corretora. Isto é, se a
comissão não for dez por cento do valor anual do aluguel, acrescido de vinte
por cento de imposto. Nessa hora abro a lista telefônica e começo a procurar
onde posso vender um rim. Ficou um
candidato. Afio a peixeira, esquento o sangue paraibano e faço uma proposta
ousada. Vocês, façam figa (que depois conto o que significa aqui) e mandem
pensamentos positivos senão não vão ter onde ficar quando vierem me visitar. A
resposta eu digo quando tiver.